domingo, 5 de junho de 2011

Você considera que a Educação a Distância pode ajudar a resolver os graves problemas educacionais do Brasil?

A expressão latina "Deus ex machina", há tanto tempo em desuso, cabe bem para discussão sobre o atual cenário da educação brasileira.Em tradução simples, ela significa "Deus surgido da máquina"e tem sua origem no teatro grego, onde foi criada para classificar as soluções inesperadas, artificiais ou até mesmo improváveis que eram introduzidas em cena para resolver os impasses intrincados das tramas. Ao longo do tempo, esse recurso "quase divino"para desatar nós de enredo ganhou uma imagem dúbia e passou a ser visto tanto como solução viável,para uns, quanto como um embuste, para outros.
A bem da verdade - e saindo da tragédia grega para a tragédia educacional verde-amarela -, a expectativa criada em torno da educação a distância (EAD) tem um tom de "Deus ex machina". Inquestionavelmente citada em qualquer lista dos mais graves problemas nacionais, a educação brasileira, com o uso das tecnologias atuais,pode dar um salto inclusivo, levando o ensino, nos diversos graus, à massa sem acesso, tanto no campo como na cidade. Mas a questão que fica é: será que hardware e software bastam? Será que estudantes, nos variados graus de ensino, conseguirão manusear e aprender com esses recursos? Ainda, os certificados terão valor no mercado? E os professores, saberão utilizá-los para fazer seu trabalho?
De maneira geral,ainda não há respostas definitivas para essas questões.E, tragicamente, muitas outras podem ser colocadas. Mas, a despeito de tudo, parte dos especialistas e a imensa maioria das grandes empresas são entusiastas do uso dessas ferramentas tecnológicas na educação. Como lembra Fredric Litto, que é diretor da Escola do Futuro, centro de estudos da Universidade de São Paulo (USP), e também presidente da Associação Brasileira de Educação a Distância (Abed),o uso de técnicas de ensino a distância não é uma novidade, o que existe hoje é uma potencialização do conceito.
No sentido tradicional do termo, há exemplos de adoção desses modelos entre agricultores e pecuaristas europeus,no fim do século XIX.Eles aprendiam,por correspondência, como plantar ou qual a melhor forma de cuidar do rebanho.No Brasil, essa modalidade por correio começou timidamente, no começo do século XX, e tem como exemplar notório o Instituto Universal Brasileiro, que oferecia cursos técnicos a distância - por exemplo, eletrônica e mecânica.O rádio e,posteriormente,a TV também foram peças fundamentais na educação remota no Brasil."Contudo,com o surgimento da Internet, o ensino a distância ganhou potencialidades nunca antes vistas", explica Litto.
Tanto é assim que até o próprio Instituto Universal Brasileiro aderiu ao mundo virtual.Hoje oferece opções de cursos usando a rede mundial de computadores, mas sem perder de vista as opções históricas, nas quais os alunos recebem em casa as apostilas para estudar.Para atender incluídos ou não, digitalmente falando, a perseverante escola já se garantiu nos dois mundos. Pode parecer exagero,mas não é. Falar de acesso à informação e à educação hoje é como falar de dois mundos distintos. Segundo Litto, por trás da corrida para a rede,há a percepção de que,na era do conhecimento, nada tem mais valor e nada dá mais poder do que saber trabalhar bem com as informações.
E, para dar conta do volume imenso de informações que circulam por todos os meios, estudar deixou de ser uma fase da vida das pessoas para se tornar um processo contínuo, como acontece no mundo dos cidadãos brasileiros inseridos e com alto poder aquisitivo. Para esses, cursos de pós-graduação,MBAs e outras opções estão sendo oferecidas usando as ferramentas de EAD. Já no outro mundo, dos que não têm acesso à escola ou às instituições de ensino superior, a Internet é uma realidade distante.Nesse ponto, encontra-se o nó que o Brasil não desatou e que faz a diferença na competição mundial com países emergentes,como a China e a Índia.
É nessa fronteira que muitos especialistas se mostram otimistas na possibilidade do encontro das ferramentas de EAD com as ações de inclusão digital. Esse talvez possa ser o "Deus ex machina" para o déficit educacional brasileiro. Para o governo federal,um ponto crítico é a formação de melhores professores de ensino fundamental. Dessa constatação surgiu, em 2005, a Universidade Aberta do Brasil (UAB), uma iniciativa da Secretaria de Educação a Distância (Seed), do Ministério da Educação (MEC).
 

http://desafios2.ipea.gov.br/desafios/edicoes/30/artigo40211-1.php

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